Os ecossistemas formam a matriz dos insumos com os quais se produzem os bens e serviços necessários à civilização. Nesse sentido, a sustentabilidade pressupõe a melhora dos resultados ambientais e sociais do crescimento econômico que move e é movido por esse processo. É evidente que os desafios são significativos, e o espaço de ação está justamente no setor produtivo.
A água é o recurso ambiental primordial em todos os processos produtivos e atividades humanas, além de regulador dos ecossistemas e componente essencial de cada ser vivo. As questões contemporâneas e futuras relacionadas à água estão na produção de bens e serviços em geral, particularmente na produção de alimentos. As reservas hídricas são utilizadas a taxas crescentes, em atendimento às demandas da sociedade.
Os avanços obtidos na produção de alimentos desde a década de 1950, período em que a população mundial dobrou, seriam inviáveis sem o uso intensivo da água. No Brasil e no mundo a agricultura irrigada responde por volta de 60% da demanda total de água. Para continuar a alimentar o mundo, é imperativo promover o chamado “uso responsável da água”, com sistemas de irrigação, cultivo, produção e processamento de menor pegada hídrica, dentro de um comprometimento voluntário com a qualidade, a disponibilidade e a governança da água nas bacias hidrográficas que os sustentam. Observe-se, contudo, que não se está aqui a reclamar mais regulação governamental, o que costuma onerar a produção e desestimular o livre empreendedor.
Diz-se que o Brasil tem uma legislação avançada de gestão de recursos hídricos. Ocorre que há um descompasso entre esse avanço legal e as capacidades reais para aplicar plenamente os seu instrumentos, resultando uma consecução apenas relativa dos objetivos do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. É por esse motivo que a gestão integrada de recursos hídricos acha-se irrealizada, ao passo que já precisa atualizar-se a fim de incluir a gestão de riscos em virtude das incertezas e das vulnerabilidades advindas da mudança climática global, independentemente de ser a sua causa antrópica ou não.
Ações voluntárias, proativas e verificadas por terceira parte de forma independente, com auto regulação privada, parecem ser o conjunto-solução no concernente ao importante papel do setor produtivo nos esforços para a sustentabilidade. Uma cuidadosa avaliação de impacto-dependência dos produtos e processos produtivos e industriais em relação aos serviços ecossistêmicos por certo indica ao empreendedor, em qualquer tipo de negócio, onde estão os gargalos e as oportunidades para obter custo-efetivamente maiores eficiências operacional e financeira com benefícios ambientais claros.
Essas oportunidades podem estar especialmente na maneira como a empresa lida com a água em toda a sua cadeia de valor. Eis um bom começo para encontrar o nexo da água com a sustentabilidade.
Silneiton Favero
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