A requalificação de rios, como tratado no post anterior, busca devolver as características naturais do rio, tentando reverter todas as perdas de oportunidade do uso da água geradas por consecutivas intervenções humanas, seja propositalmente, como pontes e retificações, seja indiretamente, pelo impacto da urbanização não planejada.
Por muitos anos a solução tradicional foi a canalização de rios urbanos, aumentando a capacidade do canal e a utilização destes para o transporte de efluentes, a construção de barragens, entre outras soluções, que por algum tempo pareciam ter resolvido os problemas que afetavam as populações. Com o passar do tempo vimos que essas soluções só adiavam um problema, que se tornava ainda maior, e aumentava a degradação dos rios e o risco de enchentes.
As imagens a seguir mostram resultados bem sucedidos de requalificação de trechos do rio Isar, na Alemanha:
Trecho 1 do rio Isar/Alemanha - Antes (foto do CIRF)
Trecho 2 do rio Isar/Alemanha - Antes (foto do CIRF)
Trecho 1 do rio Isar/Alemanha - Depois (foto do CIRF)
Trecho 2 do rio Isar/Alemanha - Depois (foto do CIRF)
É possível perceber, nestas imagens que o rio, agora, apresenta um aspecto mais natural, ocupa mais espaço, tem o resgate de suas planícies de inundação e de seu meandramento, além da vegetação nativa.
Agora veja essas imagens:
Rio Tietê – São Paulo/SP
Rio Paraíba do Sul - Volta Redonda/RJ
É difícil pensar em requalificação fluvial em áreas tão adensadas quanto estas. Como “dar espaço aos rios”, como “resgatar suas planícies de inundação” sem desfazer as cidades, o que é algo impensável?
De acordo com o Engenheiro Ambiental Giancarlo Gusmaroli, especialista neste tema e membro do CIRF, a Requalificação Fluvial Urbana (RFU) tem o objetivo de melhoria ambiental dos cursos d’água ou dos atributos relativos à sua qualidade físico-química, biológica e hidromorfológica. A motivação para sua realização não está apenas relacionada com o valor intrínseco do curso d’água, mas pode constituir uma oportunidade para a cidade em termos de valorização imobiliária das zonas ribeirinhas, da recuperação econômica dos bairros degradados, da melhoria da qualidade de vida dos moradores e da redução dos riscos de inundação.
Para desenvolver uma verdadeira estratégia de RFU, com a melhoria do estado ecológico da água, é preciso considerá-la em conjunto com o contexto local que abriga a cidade, observando aspectos tanto socioeconômicos quanto peculiares ao rio. Para tanto, é preciso identificar um conjunto de medidas de requalificação ambiental aplicável em contextos de rios urbanos capazes de integrar, ou pelo menos não penalizar, os múltiplos interesses da cidade, como a exigência de segurança hidráulica, a recuperação de áreas degradas, a necessidade de espaços para o lazer, dentre outros. A requalificação de rios em áreas urbanas é, portanto, um grande desafio!
Para tornar a requalificação algo viável, é preciso integrá-la nos processos de planejamento urbanístico, permitindo a participação ativa de todos os interessados, incluindo aí desde entes políticos e privados até mesmo a população residente na área em questão. A recuperação da memória do rio entre os cidadãos e sua adoção pela comunidade é um pré-requisito importante para o sucesso de uma estratégia de RFU.
É possível encontrar um conjunto de medidas de requalificação ambiental que, devidamente contextualizados, possam ser usados em ambientes urbanos. Deve ser dada prioridade, quando pertinente, a linhas de ações que permitam a redução da poluição da água e a descontaminação dos solos, a reativação das áreas pertencentes ao rio e o reequilíbrio das dinâmicas geomorfológicas e dos regimes hidrológicos.
O grau de melhoria ambiental que pode ser alcançado depende das várias condições do entorno, muitas vezes restritivas no sentido de uma abordagem ecossistêmica para o curso de água. No entanto, é conveniente que na tomada de decisão sejam desenvolvidas análises econômicas apropriadas para considerar as alternativas viáveis.
Não desanime, achando que realizar a requalificação fluvial em uma área densamente urbanizada é uma tarefa impossível. A grande chave para esta questão é encontrar o ponto de equilíbrio para a coexistência da cidade com o rio em um estado de qualidade ecológica melhor.
Aline Veról
Fonte: Blog AquaFluxus.
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